quinta-feira, 17 de maio de 2012

O Show de Truman [1998]


(de Peter Weir. The Truman Show, EUA, 1998) Com Jim Carrey, Laura Linney, Noah Emmerich, Natascha McElhone, Paul Giamatti, Ed Harris. Cotação: *****

Lembro muito bem de quando eu assisti “O Show de Truman” pela primeira vez. Desde já, eu o considerava um dos roteiros mais originais que conheci, e sabia que continuaria com essa impressão por um longo tempo. E é exatamente isso que me convenci, pegando o filme pra assistir novamente muitos anos depois. Sabe aqueles filmes que você assistiu há muito tempo, mas que você nunca esqueceu? “O Show de Truman” é um desses pra mim. Eu era capaz de premeditar situações e até citar algumas falas, me garantindo na memória cinematográfica que muitos cinéfilos têm. Mas nem por isso deixei de me divertir com a nova visita. Bons filmes merecem – e devem – ser revistos sempre. E não tem como não embarcar na idéia.

Truman Burbank (Jim Carrey, de "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças") não sabe, mas ele é estrela de um dos realities shows mais populares dos EUA. Desde que ainda era um feto, sua vida foi acompanhada por milhares de câmeras. Na ilha de Seahaven ele cresceu, e prestes a completar 30 anos, é um insatisfeito vendedor de seguros, casado com uma enfermeira - Meryl (Laura Linney, "Kinsey - Vamos Falar Sobre Sexo") – mas que nunca esqueceu o rosto de Lauren (Natascha McElhone, de "Ronin"), uma garota que ele conheceu na juventude e nunca mais foi vista. Assistido por uma platéia interessada em cada passo que dá, ele mal se dá conta de que sua vida é televisionada, sua rotina não passa de um roteiro, sua mulher, amigos e familiares são todos atores, e sua cidade é um grande estúdio de TV, com todo aquele clima de conspiração, já que ele é o único que não se conhece de fato. Até que a idéia de sair do lugar onde vive pode colocar em risco os planos de Christof (Ed Harris, de "As Horas"), criador do programa, que tem em Truman o seu grande experimento. 

Na segunda metade dos anos 90, o cinema passou a retratar a sociedade americana, que estava ficando cada vez mais ligada à televisão, uma população ávida pela vida alheia, e em programas que exploravam ao máximo as graças e desgraças do cidadão norte-americano. Para citar outro caso, eu me lembro de um filme chamado “Ed TV” (1999), produção com Matthew McConaughey, Jenna Elfman e Woody Harrelson no elenco, retratando a decisão de um cara comum, que decide aceitar a oferta de ter uma câmera 24 horas na sua cola, para se tornar um programa de TV fora dos padrões. Fica evidente que, além de espectadores vorazes, os americanos estavam, por decorrência, se tornando exibicionistas. “Ed TV” e “O Show de Truman” são os dois lados dessa mesma moeda, e, embora o filme de 99 não tenha feito sucesso, é um ótimo contraponto para o filme que Jim Carrey evolui partindo para o gênero dramático.

E Jim Carrey, mesmo estando excelente no papel, quem rouba mesmo o filme é Ed Harris. Fazendo um megalomaníaco capaz de quase tudo para manter Truman encapsulado naquele mundo de fantasia, ele possui um discurso até interessante para justificar os seus atos e tentar convencer Truman (e nós) de que sempre quis o melhor para sua (quase) criatura. “As decepções daqui [de Seahaven] são as mesmas que as de lá [da porta da cidade pra fora]. A diferença é que aqui você está protegido”. Lindo e questionável. Boninho deve ter ficado maravilhado com isso.

O principal fator para que eu continue reafirmando que “O Show de Truman” é genial é mesmo seu roteiro. Escrito por Andrew Niccol (“S1mone”, “O Senhor das Armas”, entre outros), o texto é milimetricamente fabuloso. E a certeza está nos detalhes. Em dado momento, vemos, quase que passando despercebido, que os personagens da história de Truman tomam cápsulas de vitamina D. Ora, se até o céu de Seahaven é um grande complexo de iluminação artificial, faz todo o sentido que os habitantes tenham que repor a vitamina D de alguma forma. E o que eles fazem para manter Truman sempre na mesma cidade? Simples, fazendo com que ele tenha pânico de embarcar em barcos ou aviões, através de situações que causaram traumas no cidadão. Explicação que se não é genial, é, ao menos, muito bem amarrada na proposta do filme, o tornando assim aceitável.

“O Show de Truman” concorreu a três Oscar, nas categorias de Roteiro Original (e veja que perdeu para “Shakespeare Apaixonado”, numa das provas de que esse filme consegue proezas inacreditáveis quando se trata lobby artístico), Ator Coadjuvante para Ed Harris, e Diretor para Peter Weir, profissional de grande nome, que infelizmente (ou não) trabalha pouco, mas sempre mantendo bons títulos. Na década passada, lançou apenas dois filmes: "Mestre dos Mares - O Lado Mais Distante do Mundo" (2003) e "Caminho da Liberdade" (2010). Se for pra ter alguns períodos de jejum para nos entregar filmes interessantes... Que assim seja.

7 comentários:

  1. Sabe que eu pensei a mesma coisa, né? Deve ser o filme predileto do Boninho esse aqui! rs

    Também adoro o filme. O roteiro, pelo amor de Deus, que coisa mais maravilhosa! É acho bacana também o fato de Carrey sempre tentar manter alguns bons títulos em sua filmografia, mesmo que de vez em quando ele se meta em algumas besteiras...

    ResponderExcluir
  2. Um belo filme de Peter Weir, com a melhor atuação da carreira de Jim Carrey.

    Peter Weir não dirige filmes com tanta frequência, mas sua filmografia é inquestionável. Sou fã do trabalho dele.

    parabéns pelo blog

    ResponderExcluir
  3. Este filme é uma grande maravilha... E Carrey... tao diferente do "bobalhao, imitador de Jerry Lewis" que normalmente é... Ed Harris transforma-se quase numa "mae", num "Pigmaliao", orgulhoso porém dominador da obra que criou... Gosto muito, muito mesmo deste filme!
    Abracos
    Ricardo

    ResponderExcluir
  4. Preciso revê-lo. Lembro que gostei muito (mesmo não suportando Carey), mas já faz muito tempo. Weir é um grande diretor.

    O Falcão Maltês

    ResponderExcluir
  5. Otimo texto. Certos filmes, merecem ser revistos sempre. Gosto muito desse tb, deu até vontade de rever. Abs.

    ResponderExcluir
  6. Seu textos transparece bem sua paixão por O Show de Truman, um filme realmente incrível. Um roteiro original, atores competentes e sacadas que valem muito (os comerciais no meio do programa são brilhantes). E é interessante fazer um paralelo entre O Show de Truman e o Mito da Caverna, do Platão.

    ResponderExcluir
  7. Sabe aqueles filmes que qdo termina vc fica meio abobado ai entra numa bolha e fica lá refletindo por dias? Pois é, rs. Comigo foi assim.

    Acho que foi uma das melhores atuações de Jim Carey. Prefiro mto mais ele em personagens assim...

    Abs!

    ResponderExcluir