terça-feira, 15 de maio de 2012

O Que é Isso, Companheiro? [1997]


(de Bruno Barreto. Idem, Brasil, 1997) Com Alan Arkin, Fernanda Torres, Pedro Cardoso, Luiz Fernando Guimarães, Cláudia Abreu, Nelson Dantas, Matheus Nachtergaele, Marco Ricca, Caio Junqueira, Selton Mello, Eduardo Moscovis, Fernanda Montenegro. Cotação: *****

Não escondo de ninguém a minha adoração por qualquer filme que retrata o período negro da ditadura aqui no Brasil. Curiosamente, filmes nacionais que abordam esse recorte histórico direta ou indiretamente, acabam se tornando bons filmes (vide, por exemplo, “O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias” e “Batismo de Sangue”). Isso comprova que brasileiro não precisa, necessariamente, mostrar favela ou seca nordestina pra provar que conseguem fazer bons filmes. “O Que é Isso, Companheiro?” é cinema de primeira linha, feito por um dos integrantes da família mais importante do cinema brasileiro: Bruno Barreto. 

No Rio de Janeiro, em setembro de 1969, um grupo de jovens do movimento estudantil, cansados da repressão imposta pelo governo militar que vigorou no nosso país entre 1964 e 85, e sem meios de se expressar por conta da censura que a imprensa vinha enfrentando, resolve pôr em prática um plano audacioso. Intitulado Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), os estudantes aproveitam a estada de Charles Elbrick, um importante embaixador americano (interpretado por Alan Arkin) ao país para seqüestrá-lo. As exigências para o resgate são, entre outras coisas, uma carta lida em rede nacional, e a absolvição de 15 companheiros políticos, que estão sob as torturas do temível AI-5. Enquanto o plano corre com sucesso, o Governo busca de todas as formas, descobrir quem são esses jovens, que abdicaram de suas vidas para se lançarem na luta armada.

Com um elenco estelar, que traz ainda a participação do ganhador do Oscar Alan Arkin (de “Pequena Miss Sunshine”), “O Que é Isso Companheiro?” já fica em destaque por conta de seu crédito de atores. De início, chega a ser estranha a presença de Luis Fernando Guimarães e Fernanda Torres, casal de atores que são disparados um dos mais engraçados do cinema e da TV brasileira. Mas nada que uma boa caracterização não resolva. Fernanda, aliás, já se mostrou uma atriz de talento imensurável, capaz de compor personagens fortes e inesquecíveis, completamente fora do viés cômico (“Com Licença, Eu Vou à Luta” e “Casa de Areia” nos dão essa certeza).

“O Que é Isso, Companheiro” foi baseado no livro homônimo de Fernando Gabeira, icônico líder esquerdista, que participou ativamente do histórico seqüestro de Charles Elbrick. O livro venceu o Prêmio Jabuti de literatura, sendo um dos trabalhos literários mais importantes de Gabeira, que hoje também é conhecido como um dos políticos mais polêmicos de sua geração, e também em um dos fundadores do Partido Verde. A versão para o cinema também conseguiu importantes êxitos. Adaptado por Leopoldo Serran (1942–2008), que também trabalhou em jovens clássicos nacionais como "O Quatrilho" (1995) e "Bye Bye Brasil" (1980), o filme chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, perdendo para o holandês - e hoje esquecido - “Caráter”. Lá fora, é conhecido como “Four Days in September, aludindo à data do ocorrido apresentado no filme.

Válido para toda e qualquer pessoa interessada em uma das fases mais importantes – e cinematográficas – de nossa História, “O Que é Isso Companheiro?” mostra, da forma mais inteligente (mantendo o espectador a todo minuto interessado na história), quais as motivações desses corajosos estudantes, que fizeram todo o possível para construir um país de desbravadores. Se valeu a pena ou não, resta a nós, a atual geração, refletir e avaliar. 

2 comentários:

  1. Assisti “O Que é Isso, Companheiro?” faz um bom tempo e ainda tenho uma impressão bem positiva sobre este filme. Me recordo também de vários trechos, especialmente aqueles protagonizados por Marco Ricca. É o melhor filme do Bruno Barreto ao lado de "Atos de Amor" e realmente representa com sucesso tanto os tempos de chumbo de nossa história como um bom momento do nosso cinema.

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  2. Ao contrário de você eu não gosto dos filmes que abordam a época da Ditadura (lá ela) aqui no Brasil, até mesmo esse "O Ano em que meus pais..." achei chatinho e bem sonolento.

    AGORA, "O que é isso companheiro" é um FILMAÇO. Assisti ainda estava no colégio na época por recomendação de um professor e não me arrependi.

    Achei surpreendente na época pois, não era tão comum como hoje filmes nacionais serem bons.

    Boa lembrança de filme aqui no Poses e Neuroses.

    Grande abraço

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