terça-feira, 24 de abril de 2012

Drive [2011]


(de Nicolas Winding Refn. Idem, EUA, 2011) Com Ryan Gosling, Carey Mulligan, Bryan Cranston, Albert Brooks, Oscar Isaac, Christina Hendricks, Ron Perlman. Cotação: **** 

O canadense Ryan Gosling se confirmou como o astro da vez no ano de 2011. Não é exatamente uma revelação. Trabalhou na TV em boa parte dos anos 90, e sua primeira aparição em um filme conhecido foi em “Duelo de Titãs” (2000) ao lado de Denzel Washington. Na última década, foi crescendo de uma forma elogiável, conquistando até indicação ao Oscar de melhor ator por seu problemático papel em “Half Nelson” (2006), e a partir daí, foi um papel prestigiado atrás de outro. Dos mais recentes, ele fez trabalhos incríveis em “Namorados Para Sempre”, “Amor a Toda Prova” e “Tudo Pelo Poder”. Mas seu maior exemplo de brilhantismo artístico está nesse “Drive”, onde ele interpreta um personagem mais desafiador, por ser um lacônico tendo que mostrar a que veio. 

O sujeito que Gosling interpreta é um cara cujo nome nem chega a ser citado (ora é chamado de “driver”, ora de “kid”). Ele trabalha como dublê em produções cinematográficas, mecânico no estabelecimento do seu amigo Shannon (Bryan Cranston), e ainda faz bicos como piloto de fuga em grandes assaltos. Ou seja, trabalha em tudo o que envolve volante. Sendo um cara praticamente impenetrável, mora em um apartamento simples em Los Angeles, e logo inicia uma amizade com sua vizinha, Irene, uma jovem garçonete que tem um filho pequeno e o marido se encontra na cadeia. Apesar da imediata atração que surge entre os dois, o “driver” logo cria a tendência de proteger Irene e sua família, após o marido desta ser libertado, mas em dívida com mafiosos. O sujeito, que antes demonstrava ser tão calmo, resolve ajudar o vizinho, e com isso, envolve-se em uma série de reviravoltas que irão afetar violentamente a todos. 

A importância do filme está basicamente no próprio protagonista e na fórmula que encontraram para trabalhá-lo. O sujeito é construído de uma maneira até metodológica para faturar o nosso interesse. O filme chegou quase nos seus 20 minutos de duração até que o personagem solte uma palavra. E no decorrer da história, seu discurso parece ser economizado para restarem suas ações. E que ações. Até as suas vestes nos querem dizer algo. Sua jaqueta, que traz um escorpião estampado nas costas, nos remete diretamente à fábula do escorpião e do sapo (que até chega a ser citada no filme). Para quem não conhece, trata-se da estória de um escorpião que queria atravessar um rio, e para isso, pede ajuda para um sapo. Este, embora desconfiado, aceita ajudar. Até que no meio do caminho é picado pelo artrópode. Mesmo sabendo que aquilo representava a morte dos dois, o escorpião argumentou que o ato de ferroar é da sua natureza, e teria que ser feito mesmo que aquilo o mataria junto a sua vítima (nesse caso, o sapo). 

Pois bem, ilustradamente, o motorista do filme é o sapo atingido pelo veneno do crime, que o rebaixou à sua corrupção. 

Óbvio que “Drive” não se resume somente a isso. O filme, aliás, é profundo, principalmente no que diz respeito ao estilo. A história, baseada no livro de James Sallis não traz nada muito além da impecável alegoria que já falei, mas o grande barato de “Drive” está justamente na sua aura cool, pomposa nos seus detalhes artísticos. É raro ver perseguições automobilísticas com certo cuidado visual e até mesmo calma para a execução delas (!). A excelente trilha sonora fica a espreita em meio a tanta violência (existe até esfacelamento de crânio com pisadas, bem ao estilo de Gaspar Noé) e atuações magníficas. Além de Gosling, destaque para Albert Brooks, popular comediante norte americano, que quase foi indicado ao Oscar por este papel. Foi injustamente ignorado, assim como o próprio Ryan Gosling, a quem todos apostavam alto. 

“Drive” rendeu ao seu interessante diretor, Nicolas Winding Refn, a Palma de Ouro no último festival de Cannes. O diretor dinamarquês, que está sendo visado graças ao seu agora importado talento, vai repetir sua parceria com Ryan Gosling no seu próximo filme intitulado "Only God Forgives", com previsão original de estréia ainda em 2012.

2 comentários:

  1. Gosto muito de Drive, mas acho BRONSON o melhor trabalho de Refn. Se não viu, procure para assistir. Drive é um filme de grande apreço visual e tem um ator em um grande momento. Com certeza, é um filme que já ficou marcado.

    Grande Abraço!

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  2. Grande trabalho do dinamarquês na direção, excelente atuação de Ryan (você poderia citar ainda o filme "Garota Ideal" que ele fez e que também é ótimo).

    Filmaço e que, infelizmente, foi ignorado pelo Oscar

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