segunda-feira, 2 de abril de 2012

Amores Brutos [2000]


(de Alejandro González Iñárritu. Amores Perros, México, 2000) Com Gael García Bernal, Goya Toledo, Vanessa Bauche, Jorge Salinas, Adriana Barraza. Cotação: *****

Eu me recordo muito bem o quanto eu resisti a esse filme por anos. Após assistí-lo há muito tempo, ainda meio inexperiente, eu fiquei horrorizado com tamanha violência, principalmente nas cenas envolvendo cachorros. Larguei o filme antes da metade, pois se não bastasse a carnificina canina, o filme tinha uma aura de causar náuseas, estética suja, e causava um incômodo indescritível. Passaram-se anos, e lembro que simplesmente adorei os filmes seguintes de Iñárritu que fecharam a trilogia iniciada justamente com “Amores Brutos”. Foram eles, “21 Gramas” e “Babel”, de 2003 e 2006, respectivamente. Toda a trilogia foi resultado de uma memorável parceria entre Iñárritu e o roteirista Guillermo Arriaga. Como um bom aluno, fui rever “Amores Brutos”, desta vez bem mais preparado. O resultado foi uma grata surpresa.

O trato com os cachorros ainda me incomoda, isso eu não nego. Mesmo que sejamos alertados, logo no início da película, que nenhum cachorro sofrera maus tratos. Não tinha como excluir a participação dos cães, porque eles são justamente o grande elo das histórias apresentadas aqui (vem daí o título “amores perros”). Octavio (Gael García Bernal) fica perdidamente apaixonado por Susana (Vanessa Bauche). Não seria grande problema, caso ela não fosse esposa do seu violento irmão. Para arquitetar uma fuga com ela, Octavio coloca o seu rotweiller em rinhas clandestinas de cães, o que lhe garante alguns trocados. Valeria (Goya Toledo) é uma top model de sucesso e referência de beleza. Seu amante acaba de largar esposa e filhas pra viver com ela. Mas um terrível acidente a faz ficar debilitada, com uma de suas famosas pernas repleta de pinos. E o catador El Chivo (Emilio Echevarría) tenta se reaproximar de sua filha, hoje uma mulher, que ele abandonou quando era ainda uma criança para servir numa guerrilha.

Como se vê,  são histórias que aparentemente não tem nada a ver umas com as outras. A não ser o amor pelos cães que cada um sentem. Susana fica desesperada ao ver seu seu pequeno cachorro entrar no asoalho do apartamento e não poder fazer nada por conta de sua dolorosa recuperação, e El Chivo, como todos os catadores de papelão e quaisquer outros materias recicláveis, vive repleto de cachorros ao seu redor.  Claro que os animais não são o suficiente para se imporem no filme, afinal, é preciso um elo maior de ligação. Isso fica a cargo de um acidente entre carros, que irá afetar a vida dos personagens definitivamente. 

Em qualquer aula básica de teoria cinematográfica, uma das coisas que nos é ensinada é a atenção que devemos ter nas peculiaridades do roteiro. E isso pode ser interpretado na forma como o roterista (nesse caso, Arriaga) desenvolve a sua narrativa. Cada cena e cada diálogo devem ACRESCENTAR algo na história. “Amores Brutos” é um exemplo a ser seguido, pois suas cenas sempre tinham algo a trazer tanto para as histórias, quanto para acrescer os próprios personagens, os tornando cada vez mais intrigantes. Se isso já não é elogio suficiente, o que dizer então do belíssimo trabalho de  Iñárritu, antes um publicitário que se encantou com o ofício, e demonstrou o início de sua fase mais promissora. Amo toda a trilogia, mas não sou fã de “Biutiful”, por exemplo. O que pode acusar uma certa limitação no próprio diretor, que ainda merece melhores oportunidades e fugir de uma acusação de cineasta de um truque só (nesse caso, de três).

“Amores Brutos” chegou a ser indicado ao Oscar de filme estrangeiro, mas acabou perdendo para o belíssimo “O Tigre e o Dragão”. O filme também é válido para você conhecer um lado do México que você certamente não gostaria de viver.

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