segunda-feira, 26 de março de 2012

Edward Mãos de Tesoura [1990]


(de Tim Burton. Edward Scissorhands, EUA, 1990) Com Johnny Depp, Winona Ryder, Dianne Wiest, Anthony Michael Hall, Kathy Baker, Kathy Baker, Alan Arkin, Vincent Price. Cotação: ****

Nunca é tarde para embarca no universo sombrio que só Tim Burton consegue realizar. Tudo é muito particular, e mesmo que não saibamos identificar o contexto em que seus filmes se encontram, é por um motivo muito simples: Tim Burton define sozinho o tempo e o espaço de suas obras. Um exemplo cabal está neste “Edward Mãos de Tesoura”, que ele realizou graças a um desenho que ele fez ainda adolescente. O filme se passa em uma região que nos remete aos anos 60, num bairro bem típico desta época, com uma rotina ensaiada e mulheres instituídas no modo americano de viver, em contrapartida, existe a jovialidade e rebeldia dos anos 70 e os exageros estilísticos dos anos 80. Afinal, quando se passa o filme?

Simples. Não há resposta para esta pergunta por dois motivos óbvios: O primeiro é que “Edward Mãos de Tesoura” não é, nunca foi, e nem pretende ser um filme explicativo, porque é, acima de qualquer coisa, uma fábula. O outro motivo, já previamente explicado no parágrafo anterior, diz respeito à intenção de Burton em recriar um universo próprio, pegando referências de variadas épocas para plastificar sua obra como ele planejou. O resultado ficou tão bom, que até pouco tempo atrás, “Edward...” era seu filme preferido, já que ele conseguiu transpor suas referências de vida (o bairro onde se passa a história é baseado em Burton, Burbank, lugar onde Burton cresceu) num filme que fez época, e muita gente ainda guarda ótimas recordações.

Num bairro pacato de um subúrbio americano, Peg (Dianne Wiest) faz o possível para conseguir vender os seus cosméticos, batendo de porta em porta, sempre recebendo recusa da vizinhança. Até que ela, corajosamente, resolve tentar a sorte num casarão que fica no cume de uma montanha. Com fama de mal assombrado, o lugar abriga uma criatura singular. Com formas humanas, mas possuindo o que restou da época em que ainda era uma máquina (possui tesouras no lugar das mãos), o pálido Edward (Johnny Depp) nunca chegou a ser um humano completo, já que seu criador (uma espécie de Frankstein poético) morreu antes disso. Peg, mesmo assustada, acolhe Edwards, o levando para casa. O novo hóspede acaba virando a atração do bairro, chamando a atenção de todas as fofoqueiras. Só não consegue a atenção devida de Kim (Winona Ryder), filha de Peg, por quem Edward se apaixona.

Mesmo explicando tão minuciosamente a história, eu apostaria que muitos já conhecem a trama de “Edward Mãos de Tesoura” de cor e salteado. É que o filme já foi exaustivamente reprisado na TV e é um dos queridinhos de toda uma geração. Também é um dos trabalhos mais “colorido” do universo gótico de Tim Burton, que soube muito bem retratar o primeiro contato com o diferente de mais um de seus notáveis seres “estranhos”. Quase todos os protagonistas dos filmes do cara possuem um quê de “ser mal compreendido por um mundo perverso”. Edward, apesar de ser mais um exemplo, se torna único pelo seu estilo meio punk (é muito relacionado a Robert Smith, líder da banda The Cure), se tornando de vez uma das figuras mais marcantes da fase sóbria de Burton.

A trilha sonora, criada pelo Danny Elfman (parceiro de longa data de Burton e Gus Van Sant e marido da atriz Bridget Fonda) considera este como um de seus melhores trabalhos. Johnny Depp, que já tinha feito filmes juvenis (“A Hora do Pesadelo” e Cry Baby”) e sérios (“Platoon”), precisava de um empurrão profissional para deslanchar. E assim o fez. A parceria com Burton duraria anos com bons (“Ed Wood”) e maus momentos (como a dispensável refilmagem de “A Fantástica Fábrica de Chocolates”). O filme também traz Winona Ryder num dos melhores momentos de sua carreira, que se consagraria de vez alguns anos mais tarde, com direito à premiações importantes, até ruir de vez com sua polêmica cleptomania. Ela e Depp, inclusive, até chegaram a namorar a partir dessa época (ele chegou tatuar o nome da atriz no braço, tendo que remover com cirurgia quando o namoro chegou ao fim.)

“Edward Mãos de Tesoura” é um filme querido por muita gente, o que demonstra que sua intenção de funcionar como um conto moderno foi muito bem recebido. É também um dos filmes mais “família” de Tim Burton, que voltaria para a escuridão logo em seguida. Válido para matar as saudades da infância de muita gente.

4 comentários:

  1. Ainda é o melhor filme de Burton-Depp.

    Grande abraço,

    O Falcão Maltês

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  2. Ola,muito bem lembrado este filme,na época que vi me lembro de ter ficado com um pouquinho de medo do J,Deep;foi um dos seus tantos personagens incríveis e atípicos no cinema.Já tinha esquecido muito deste filme,mas ao ler tua matéria,voltou como num 'clik' para a esquecida memória.Valeu,e gostei demais.Grande abraço caro amigo.

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  3. Com certeza, um dos (eu ia falar "o", mas acho que seria uma baita injustiça!) melhores trabalhos de Burton. Inesquecível!

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  4. Só de ler seu texto e relembrar do filme eu já me arrepiei. Esse filme é muito especial para mim, foi com ele que minha visão de cinema mudou, minha paixão cresceu ainda mais (antes me limitava a assistir filmes dos Trapalhões e coisa e tal).

    Assisti no cinema (sou um pouco velho) e saí maravilhado e o revi várias outras vezes na tv.

    Para mim é um clássico inesquecível, daqueles para se guardar pra sempre por mais que história (a fábula) não nos traga nada de excepcional.

    Mas a vida é isso aí :)

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