sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Tudo Pelo Poder [2011]


(de George Clooney. The Ides of March, EUA, 2011) Com Ryan Gosling, George Clooney, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, Evan Rachel Wood, Marisa Tomei, Jeffrey Wright, Max Minghella. Cotação: *****

Se você não conhece ou não entende como funcionam as eleições nos EUA, “Tudo Pelo Poder” apresenta, mesmo que presumivelmente, algumas considerações. Para começar, lá (ao contrário de cá) as eleições não são dadas de forma direta. Isso quer dizer que o povo não elege o seu novo presidente, mas sim os delegados estaduais, que por sua vez, entregam os votos para determinado candidato. Cada um dos cinquenta Estados possui um número X desses delegados, que variam de acordo com o número de habitantes do lugar. Antes de todo esse processo, existem as chamadas “primárias”, nas quais os dois principais partidos – o Republicano e o Democrata – fazem uma disputa interna para saber quem vai ser o representante a largar na corrida presidencial.

Tudo isso parece ser pouco inteligível, porque não faz parte do modo como nos habituamos a eleger nosso presidente da República, mas também não é preciso conhecer todos os meandros da política norte americana para acompanhar este filme imperdível, que nos dá a certeza de que George Clooney sabe como fazer cinema, como já havia dado indício no envolvente “Boa Noite e Boa Sorte”, de 2005.

Ambientado no Comitê Nacional Democrata, o filme apresenta os bastidores da campanha do governador Mike Morris (George Clooney) para ser o representante democrata nas eleições para presidente. O seu “cérebro de confiança” (como ele mesmo define) é o competitivo Stephen Meyers (Ryan Gosling), responsável pelas estratégias de imagem do candidato, sob a supervisão de Paul Zara (Philip Seymour Hoffman). Nessa disputa que vale quase tudo, ele terá que lidar com questões éticas que jamais poderia esperar, principalmente depois de se envolver com Molly Stearns (Evan Rachel Wood), uma estagiária do mesmo comitê de campanha do qual trabalha.

Como deu pra perceber, todo o filme se passa nos bastidores de uma primária do partido democrata. Isso mostra o que (e quem) está por trás dessas campanhas, com assessores responsáveis pelo crescimento nos números de intenção de votos, tendo que lidar com os jornalistas, manter a imagem de bom moço dos candidatos, e até dos discursos deles, criando cada linha, pontuação e entonação do que tem que ser dito. O planejamento desses discursos poderá ser primordial para que o candidato se saia bem em pronunciamentos sobre temas polêmicos, como aborto ou os direitos civis dos homossexuais (como acontece em uma cena em que o personagem de George Clooney é sabatinado por eleitores).

Ryan Gosling é o que poderíamos chamar de “o cara da vez”. O ator já é queridinho de muita gente, que até o proclamam como um dos melhores atores da atualidade. Aqui ele se sai bem dessa pressão, entregando mais uma brilhante interpretação (pra variar), encarnando um dos estrategistas que tem de lidar com questões éticas bem complicadas. Ele chega a ser questionado com um “você quer trabalhar para um amigo ou para um Presidente?”, e por não saber como responder isso diretamente, ou não ter consciência de toda a situação que o cerca, se afundando cada vez mais, vamos criando um vínculo de amor e ódio com o personagem. E isso é uma das provas de que o filme funciona perfeitamente.

Com todo aquele clima de que ninguém pode ser confiável, e o discurso batido de que o poder corrompe e qualquer ser humano é passível a isso - por mais idôneo que ele seja -, “Tudo Pelo Poder” não vem com nenhuma novidade. Porém, o que torna o filme especial é a maneira como vai ser retratado o que todos esperam, com as devidas surpresas e situações intricadas, que vão desmoronar em situações delicadas para os principais personagens. Não se engane pelo início estável, o filme vai ficando cada vez mais imperdível, mas sem precisar dar um nó na cabeça de ninguém, afinal, tudo ali é muito simples, e se sustenta por conter duelos ótimos, com diálogos idem.

Tem ali várias possibilidades de encarar o projeto como uma crítica à Barack Obama e seu governo que vem decepcionando grupos de personalidades. Clooney, agora comprovando, faz parte dos decepcionados. E, com muita competência, entrega esta obra que tem fôlego suficiente para ser um dos melhores filmes deste ano.

4 comentários:

  1. Falei sobre essa produção ontem no blog e me encaixo na categoria dos que acham Gosling um dos melhores da atualidade (ele é um dos meus queridinhos).
    Gostei bastante do filme e da direção segura de Clooney. Só achei que o tom decepcionado e fatalista usado por ele mostrou uma surpresa muito grande por alguns fatos podres, como se o fato de Obama ser Obama o impedisse de entrar de vez no jogo político. Faço apenas essa ressalva.
    De resto, um ótimo thriller político, sem dúvida.

    ResponderExcluir
  2. se de alguma forma tiver como comparar com o filme anterior dirigido por clooney, esse é infinitamente melhor. roteiro muito amarrado e um elenco soberdo.

    ResponderExcluir
  3. Gosto muito desse filme, principalmente do roteiro e do conjunto do elenco. Até a direção do Clooney é acertadamente discreta e classuda. Melhor que muito filme concorrendo a prêmio esse ano.

    ResponderExcluir