quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Precisamos Falar Sobre o Kevin [2011]


(de Lynne Ramsay. We Need to Talk About Kevin, EUA/Reino Unido, 2011) Com Tilda Swinton, John C. Reilly, Ezra Miller, Jasper Newell, Rock Duer, Ashley Gerasimovich. Cotação: *****

Desde que foi anunciado como um dos preferidos em categorias importantes nas premiações de cinema que estão chegando, fiquei curioso para conferir esse filme que tinha tudo para me agradar completamente. E assim aconteceu. Uma campanha brilhante, uma idéia intrigante e uma das atuações mais entregues da esquisitona Tilda Swinton, atriz que - se repararmos bem - nunca falha. Dirigido pela interessante Lynne Ramsay ("Morvern Callar" e "Ratcatcher"), baseado no livro homônimo de Lionel Shriver (obra que foi rejeitada por inúmeras editoras até conseguir ser publicada em 2005), o filme tem uma impactante forma de contar uma história de maneira bastante competente.

Com uma edição não convencional, acompanhamos o drama de Eva Khatchadourian (Tilda Swinton), uma mulher do mundo (logo no começo, vemos sua alegria ao participar da Tomatina, um dos festivais mais tradicionais de Valência, na Espanha, com gente imersa num mar de tomates). Ao se casar com Franklin (John C. Reilly) e logo ser mãe de Kevin (Ezra Miller na fase adulta), ela percebe o quão difícil é se fixar em um único lugar, o que pode ter afetado o seu filho de forma negativa. Desde pequeno, Kevin apresenta uma falta de sensibilidade com a mãe, que culmina em uma série de conflitos no decorrer de seu crescimento até chegar a uma grande tragédia ocorrida em um colégio, que fará com que Eva seja odiada pela população.

Uma das provas de que um filme é realmente bom, na minha modesta opinião, é a possibilidade das fortes lembranças que este nos causará nas horas seguintes, ou no melhor dos casos, até nos dias seguintes. “Precisamos Falar Sobre o Kevin” surtiu esse efeito em mim. Sua narrativa é fluída, e por isso, é de se estranhar o início, por vezes confuso, mas que por dedução as cenas e os tempos narrativos acabam se ajustando perfeitamente. O lado bom dessa forma de contar a história é que não nos atemos à forma gradual da relação entre mãe e filho aqui. Já conhecemos o que restou (uma relação quase sem diálogos) e questionar se isso pode ter sido resultado de uma relação conturbada entre os dois. O que poderia ter acontecido? Até quanto mãe e filho se odeiam? O que podemos esperar disso tudo?

Uma discussão que o filme levanta e reconheço que é algo bastante comum na sociedade, é o modo como a mãe de um delinquente é apontada pelas pessoas em alguns casos. Muitas vezes, a situação não chega a ser necessariamente como é mostrada no filme, no entanto, presenciamos perguntas como “E onde está a mãe nessa história?” quando um criminoso comete uma barbárie de níveis midiáticos. “Precisamos Falar Sobre o Kevin” retrata justamente esse tipo de situação, mas sob a ótica da mãe dele. Pra não dizer que isso é original (porque certamente não é), eu diria que é um dos exemplos mais marcantes que já tive conhecimento. Merece ser visto e discutido de forma ampla.

É inevitável o alerta de que “Precisamos Falar Sobre o Kevin” é também um filme performático. Então, prepare-se para ver um trabalho de composição simplesmente fenomenal de uma das atrizes mais interessantes dessa geração. Dar conta de tanto drama com olhares pesados e distantes, as pausas silenciosas que nos faz traduzir tudo o que se passa em sua mente sem que ela precise de um discurso, é digno de nota e aplausos para Tilda Swinton. A narrativa descompassada que citei no texto ajuda ainda mais a evidenciar o contraste entre as fases da vida de Eva, e assim, o trabalho multifacetado da atriz. Não tem jeito, é uma das melhores atuações do ano.

Não li a obra da qual o filme foi adaptado, mas após conferir o longa, cheguei a folheá-lo numa livraria. Vi que é um apanhado de várias cartas de Eva para o marido, tentando justamente dialogar sobre seus problemas com Kevin (que o marido sempre acreditou ser apenas uma criança que sofre com o questionável amor de sua mãe). Ao que parece, o livro parece ser tão intenso quanto o filme, e por isso, já se mantém como um dos títulos que mais me interessa neste ano que está apenas começando.

9 comentários:

  1. Irei na pré-estreia hoje õ/
    volto para comentar depois :)

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  2. Ah Adécio, esse filme é mesmo uma maravilha! Uma das melhores surpresas de 2011 para mim. Tilda Swinton está na melhor atuação do ano passado que eu vi - até aposto nela para o Oscar, mas com muita pouca crença - e o filme é incrível. Intenso a cada momento e brinca bastante com toda a edição, pra dialogar junto com a linguagem corporal de mãe e filho.
    E eu te recomendo o livro, que consegue superar o filme em vários aspectos e me trouxe lágrimas naquela final desesperador. Mas o filme não fica muito atrás.
    Abração!

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  3. Pirado para ver esse filme. Assim que regressar à minha rotina normal, é o que vou fazer. Ainda mais depois de ler um texto como o seu. Viva Tilda!

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  4. Estou aguardando esse filme com ansiedade. A Tilda sempre vale a pena.

    O Falcão Maltês

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  5. Adorei o post. Muito bem escrito e me instigou a ver o filme, que tem um tema extremamente interessante. Fora que a Tilda Swinton é uma "esquisitona" surpreendente, gosto muito de como ela atua. Eu também tinha dado uma olhada no livro e me interessei bastante, vou tentar incluí-lo na minha meta de leitura desse ano!

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  6. Não conheço este filme, Adecio. Fiquei curioso. Excelente trabalho. Acabei de ler uma de suas resenhas: "Ligações Perigosas". Meus parabéns. Poucos são os bloggers, aqui, que desenvolvem tão excelente trabalho. Seguindo...

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  7. Concordo que Tilda tem ótima atuação, mas vê-la em cana é sempre uma grata surpresa. Porém o filme em si não me convenceu. Achei-o redundante nos recursos que utiliza para gerar desconforto na audiência, como abusar dos objetos cênicos vermelhos, o que não nada original fotograficamente falando. De qualquer forma ótimo texto Adecio! Parabéns! :-))))

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  8. Assisti Precisamos Falar Sobre Kevin neste final de semana e AMEI. Filme perfeito em quase todos aspectos. A atuação da Tilda Swinton é GENIAL. Lamentável foi ela não ter sido indicada ao oscar...

    Abraços!

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  9. Ah, preciso ver o quanto antes.
    Só digo isso.

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