sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Pulp Fiction - Tempo de Violência [1994]


(de Quentin Tarantino. Pulp Fiction, EUA, 1994) Com John Travolta, Samuel L. Jackson, Tim Roth, Amanda Plummer, Bruce Willis, Ving Rhames, Maria de Medeiros, Rosanna Arquette, Steve Buscemi, Christopher Walken, Harvey Keitel, Uma Thurman. Cotação: *****

Foi com esse filme que Quentin Tarantino reinventou a linguagem do cinema norte americano em um dos trabalhos mais memoráveis dos anos 90. Apesar de já ser bem visto no meio por conta de seu primeiro trabalho – “Cães de Aluguel” -, foi com “Pulp Fiction” que Tarantino acabou ficando melhor reconhecido em premiações, vencendo o Oscar de Melhor Roteiro Original (ainda foi indicado a Melhor Filme, Diretor, Edição, Ator, Atriz e Ator Coadjuvante), além de ter se tornado um verdadeiro cult entre os cinéfilos por conta das inúmeras cenas ontológicas, uma trilha sonora épica, takes que mais tarde acabariam se tornando maneirismos de Tarantino e, claro, a forma dele de demonstrar como é ser um cinéfilo inveterado por trás das câmeras.

Marsellus Wallace (Ving Rhames) é um dos mafiosos mais temidos. Após comprar uma luta, onde o pugilista Butch (Bruce Willis) teria que ser vencido, o atleta acaba fugindo sem nem mesmo lutar, levando consigo a mala de dinheiro que tinha sido o seu pagamento. Enquanto isso, Jules Winnfield (Samuel L. Jackson) e Vincent Vega (John Travolta), dois gângters capachos de Marsellus vão buscar uma maleta de dinheiro do chefe, porém tudo pode acontecer nessa tarefa. Mais tarde, Vincent terá que levar a noiva de Marsellus, Mia Wallace (Uma Thurman), para jantar. Porém, terá que ficar na guarda por conta do perigo que ela representa.

É impressionante a capacidade de Tarantino de criar arcos infalíveis em seus filmes. Ele desenvolve minuciosamente cada núcleo de sua história, e não poupa seus personagens de eventuais descartes. Em companhia de seu fiel colega Roger Avary, o roteiro está inserido no charme das narrativas extremamente violentas em que ele se baseou: as publicações “pulp”. As “pulp fictions” eram revistas confeccionadas com um papel baratíssimo, e continham histórias que visavam entreter através da linguagem rápida e consumível, com bastante violência e outros atrativos. Essas revistas ficaram populares a partir de 1900, e as capas, sempre chamativas, eram estampadas muitas vezes por mulheres em poses atraentes ou em perigo (a capa de “Pulp Fiction” é a homenagem mais direta).

No elenco, o até então esquecido John Travolta volta à boa forma (profissional, é claro) ao lado de ninguém menos que Samuel L. Jackson, formando com ele uma dupla impagável, fazendo com que se tornem os verdadeiros protagonistas do filme, se é para apontar os principais. Uma Thurman, ainda em inicio de carreira, tem sua chance de ouro, apesar de quase ter recusado o papel. O próprio Tarantino teve que ler o roteiro para ela via telefone para fazer com que ela aceitasse o trabalho, já que fazia questão de sua presença. Não fez feio (foi inclusive indicada a Oscar) e a parceria deu certo. Anos mais tarde, ela dividiria sua carreira com os dois volumes de “Kill Bill”, projeto que Tarantino idealizou com Uma sendo sua protagonista. Destaque também para as participações de Christopher Walken e Harvey Keitel, que apesar de passageiras, fazem um dos momentos mais memoráveis do filme.

Memorável também é a edição de outra colega fiel de Tarantino, Sally Menke (1953-2010), que encontrou a maneira perfeita de juntar todas as histórias trabalhadas, inclusive o casal de bandidos que protagoniza a introdução, concluindo que restaurantes nunca são alvos de assaltos. E a trilha sonora, tão boa quanto o filme, é recheada de verdadeiras pérolas como "Son Of A Preacher Man" de Dusty Springfield (1939-1999) e "Girl, You'll Be A Woman Soon", música de Neil Diamond cantada por Urge Overkill, mas sempre ouvidas em momentos sublimes, como são também as inesquecíveis cenas de dança ou consumo de heroína e cocaína, esta última responsável por uma das overdoses mais lembradas do cinema.

“Pulp Fiction” é daqueles filmes que são longos (tem por volta de 2h30), mas que nunca cansa. Não só pela quantidade de personagens, diálogos afiados e momentos surreais, pois nada disso seria garantia de um excelente filme se não fosse produto de uma mente tão apaixonada pela sétima arte como é a de Tarantino.