terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Rede Social [2010]


(de David Fincher. The Social Network, EUA, 2010) Com Jesse Eisenberg, Rooney Mara, Bryan Barter, Brenda Song, Armie Hammer, Andrew Garfield, Justin Timberlake. Cotação: *****

“Você provavelmente vai ser uma pessoa bem sucedida. Mas você vai passar a vida pensando que as garotas não gostam de você porque você é um nerd. E eu quero que você saiba, do fundo do meu coração, que isso não será verdade. Isso vai ser porque você é um babaca."

É esse discurso curto e ao mesmo tempo certeiro que Mark Zuckerberg ouve de sua ex-namorada no filme que, segundo consta, contextualiza a criação do fenômeno Facebook a partir de um fora que o criador leva da garota. Segundo o próprio Mark, o cinema tem essa mania de querer dar motivos dramáticos para uma idéia que poderia muito bem emergir de um momento de genialidade.

Estando ele certo ou não, "A Rede Social" deslancha como um filme que funciona, mesmo sendo uma cinebiografia de um rapaz de apenas 26 anos, que graças a sua incapacidade de se relacionar de forma saudável presencialmente e sua forma ácida de se comunicar através da internet, fez com que criasse um negócio que lhe rendeu o título de “o bilionário mais jovem do mundo”, segundo a conceituada Forbes.

"A Rede Social" tem inicio com um diálogo caótico entre Mark (Jesse Eisenberg) e Erica (Rooney Mara), a tal ex-namorada da discórdia. Com raiva pelo fim de seu relacionamento, ele solta o verbo no seu blog pessoal, não poupando a garota com críticas até mesmo quanto ao tamanho de seu sutiã. Ainda revoltado, ele cria um site que compara as garotas de Harvard – Universidade da qual é aluno - a animais, o Facemash.com. É então procurado pelos gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss (Armie Hammer), que pretendem lançar uma rede social exclusiva de Harvard, que vai se expandindo para outras universidades. As inovações e melhorias que Mark vai acrescentando fazem com que ele ultrapasse seus amigos e detenha completamente o Facebook, que mais tarde se tornaria uma rede ao alcance do mundo inteiro.

Mark Zuckerberg é o grande epicentro da discussão. Suas atitudes maquiavélicas são sempre muito bem argumentadas com seu estilo de falar, que por vezes parece que uma coisa atropela a outra. Não é interessante aqui levantar uma bandeira do politicamente correto ou uma ética, pois estamos falando de um ramo que se confunde como uma “terra de ninguém” que é a internet, e a relação entre pessoas que visam o lucro acima de qualquer coisa.

Seria importante se todos assistissem "A Rede Social" com a consciência de que não existe o mocinho e o vilão por detrás de todo o processo de acusação contra Mark Zuckerberg, afinal, o mundo é feito de pessoas que buscam sua preservação, e claro, algo que está acima até mesmo das cifras do lucro de um negócio bilionário: a imagem do idealizador. Na internet principalmente, onde chovem os jovens que buscam a cada dia serem vistos e reconhecidos como alguém com uma boa idéia na cabeça e que ponha para funcionar de maneira lucrativa. Isso está além da questão da vilania. É pura ausência de atenção e desconhecimento por não lidar com isso. Por isso, o melhor amigo do protagonista, o brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield) – que também processou Mark – se sente preterido por nunca ser lembrado.

Outro ser que surge de forma muito interessante no filme, é Sean Parker (Justin Timberlake), criador do Napster, causador da maior luta jurídica entre grandes corporações fonográficas e redes de compartilhamento de músicas na internet. Sean tem justamente essa alma empreendedora e subversiva de Mark, e lógico, vai querer abocanhar uma fatia do negócio que ele, como um bom visionário, já sabe que vai ser algo grande. Por uma ironia ímpar, Sean Parker é interpretado pelo cantor Justin Timberlake, o retrato da versatilidade na música e diretamente afetado pelo negócio do cara que ele interpreta. E é ele, Justin, um dos que mais se destaca no elenco, surpreendentemente! Afinal, por ser cantor e galã, sempre achamos que ele poderia mandar mal. Coisa que não acontece.

A direção de David Fincher ("Clube da Luta", "Se7en – Os Sete Crimes Capitais") mantém sua forma peculiar. Tomadas frenéticas e enquadramentos inspirados. Sua versatilidade é tão elogiável, que podemos ver ao longo de sua carreira que ele tem muito a mostrar ainda, e isso é muito bom para alguém que almeja ser reconhecido. O ator Jesse Eisenberg vem acumulando prêmios e indicações pelo seu trabalho, mas analisando bem, mesmo com sua forma muito bem conduzida de discursar, não faz algo tão memorável como seus outros concorrentes Colin Firth ("O Discurso do Rei") e James Franco ("127 Horas").

O roteiro de "A Rede Social" é o grande responsável pela qualidade, auxiliando o bom aproveitamento do elenco e o apoio de David Fincher. O texto de Aaron Sorkin, a partir do livro "Bilionário Por Acaso" de Ben Mezrich, mantém uma agilidade incrível e momentos de discussões acaloradas, e pasmem, faz rir quando lhe é conveniente, com sacadas geniais. É por isso que "A Rede Social", somado todos esses fatores, deve ser lembrado como um dos filmes mais importantes de 2010. Pra mim, pelo menos, é a grande surpresa do ano.

Um comentário:

  1. É um filme muito bom, com uma relevância atual impressionante, e ainda tem gente que o reduz apenas ao "filme do facebook", mas é bem mais que isso.

    Ainda assim, acho que é um filme que perderá força com o tempo, por isso preferia A Origem, por exemplo, que continuará sendo intrigante depois de anos.

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