quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Atração Perigosa [2010]


(de Ben Affleck. The Town, EUA, 2010) Com Ben Affleck, Rebecca Hall, Jon Hamm, Jeremy Renner, Blake Lively, Slaine, Pete Postlethwaite, Chris Cooper. Cotação: **

Ben Affleck comprova, mais uma vez, que é melhor diretor do que ator. Mas cá entre nós. Isso é um grande elogio? Até porque ele nunca foi levado a sério em frente às câmeras, sendo reconhecido muitas vezes como um grande canastrão, o que de fato ele é. Mas o que lhe falta em talento dramático, lhe resta em animosidade para sair de sua zona de conforto e enfrentar projetos pretensiosos que podem lhe render algum tipo de prestígio. Um risco enorme e uma atitude louvável. "Atração Perigosa" serve para mostrar que Affleck, apesar da mão pesada na direção e um roteiro de qualidade duvidosa, ao menos tem algo bom ao seu favor: ele sabe dirigir atores. Caminhando assim, quem sabe um dia ele alcance alguma maturidade.

Ao ter início, "Atração Perigosa" parece remeter a uma grande questão: como é a tal “cultura do crime” em Charlestown, um bairro de Boston dominado por quadrilhas que saqueiam os bancos dali. Um exercício criminoso comum e passado de pai para filho. Em um desses assaltos, a equipe de assaltantes liderados por Doug MacRay (Ben Affleck) e seu comparsa Jem (Jeremy Renner) aterroriza o banco no qual trabalha a gerente Claire Keesey (Rebecca Hall), numa atitude rápida, ela aciona o alarme, fazendo com que a peguem de refém e logo liberada. Mas ao descobrirem que ela também é uma moradora de Charlestown, o grupo fica receoso. Ao que Doug se prontifica a tomar conta dela, mas seu interesse evolui rapidamente para uma paixão.

Em meio a isso, o chefe do FBI Adam Frawley (Jon Hamm) está bem próximo de desmontar o esquema. Enquanto Doug imagina ter encontrado o amor de sua vida, pensando finalmente em sair dessa vida onde se vê pressionado pelo seu irmão de consideração Jem e do o estranho Fergus (Pete Postlethwaite), o encalço do FBI, e o fato de seu pai (Chris Cooper) estar na prisão, demonstram que ele não é feliz e planeja sua aposentadoria. Mas muitos fatores podem ir contra seus desejos.

Se "Atração Perigosa" focasse nesse duelo interno do personagem Doug de forma mais precisa, teríamos aí um filme que mereceria grande atenção. Infelizmente, essa premissa que parece ser tão bem introduzida no início é logo abandonada para dar espaço a uma história de amor que já começa torta. Toda a aproximação do casal protagonista parece forçada. Em pouco tempo de conversa, a personagem Claire já demonstra uma fraqueza absurda. E nem estou falando do fato ter sido raptada, e isso, conseguintemente causaria uma espécie de trauma. Mas a forma até mesmo ingênua como ela é levada a se envolver com Doug chega a ser irritante. Doug também não fica muito atrás, um grande ladrão (?) cujo maior decepção provém de sua infância solitária. Mas enfim, daí é uma tortuosa muleta promocional para Affleck desempenhar sua canastrice.

Sempre excelente em "Mad Men", John Hamm faz o típico chefe de departamento metido a salvador, mas as tentativas de torná-lo uma grande pedra no sapato do anti-herói acabam por trazer certo ar de antipatia ao personagem, o que não deixa de ser um clichê do gênero. O indicado ao Oscar Jeremy Renner, como eu previa, não traz um desempenho brilhante. Nada que sobressaia de sua carreira falha, mas também não chega a ser a pior coisa do filme. É esforçado, previsível e nunca mereceria estar entre os cinco melhores coadjuvantes do ano, a não ser que a Academia não tivesse opção de votos. E isso ela tem.

Ben Affleck venceu o Oscar de Melhor Roteiro por "Gênio Indomável", de 1997, que ele escreveu juntamente com seu amigo de infância Matt Damon. Uma vitória bem questionável, que a Academia até tenta esconder (naquele mesmo ano, concorria na categoria Paul Thomas Anderson e ninguém menos que Woody Allen). Mas o que "Atração Perigosa" deixa evidente é o desfecho penoso que Affleck deu para a história, numa tentativa de torná-la uma fita com um final por vezes poético. Por mais difícil que possa piorar, eu andei lendo que o final iria ser ainda mais vergonhoso (coisa que não posso contar), mas foi alterado após pesquisa pública.

Como premissa, o thriller pode agradar nas cenas de ação com perseguições nas ruas estreitas de Boston. No mais, Affleck insiste subestimando a inteligência dos cinéfilos.

3 comentários:

  1. Gostei bastante de "Medo da Verdade", Affleck realmente teve uma ótima direção. Sim, também acho ele melhor atrás das câmeras. Mas ainda acredito que é cedo afirmar que ele está indo bem. Até porque ele só está dirigindo policiais... Será que algum dia ele conseguirá demonstrar sensibilidade como Eastwood com dramas?! Enfim, ele é bom. Mas, ainda sim, normal!

    []s

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  2. Poxa, acho o Bem Affleck um bom ator.
    Armageddon ,demolidor por exemplo.
    Papéis diferentes e ele fez uma ótima atuação.

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  3. Não achei ruim como você. Gostei do filme, parece que Affleck tem sim algo a dizer. E Jeremy Renner não merecia mesmo a indicação.

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