segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Cisne Negro [2010]


(de Darren Aronofsky. Black Swan, EUA, 2010) Com Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel,  Barbara Hershey, Winona Ryder. Cotação: *****

No balé O Lago dos Cisnes, a jovem princesa Odette sofre o feitiço de um mago e se transforma em um cisne. O tal feitiço só poderá ser quebrado caso um homem a ame exclusivamente. Um príncipe se dispõe a salvá-la, mas a ardilosa Odile o encanta, fazendo assim com que a promessa dele seja quebrada. Desiludida, a princesa se submete a um ato da morte, inconformada pela perda de seu amor. A bela obra do russo Tchaikovsky serve de pano de fundo para narrar o mais novo thriller psicológico de um cineasta que nunca decepciona: Darren Aronofsky, diretor responsável pelos brilhantes "Réquiem Para Um Sonho" e "Pi".

Seguindo sua cartilha visual e narrativa, Aronofsky adentra no consciente da bailarina Nina Sayers (Natalie Portman), que depois de anos dedicada numa companhia de dança, vê a grande oportunidade de realizar seu maior sonho: protagonizar O Lago dos Cisnes, após a demissão de Beth M. (Winona Ryder) das apresentações. Mas para isso, ela terá que conquistar a confiança do idealizador Thomas (Vincent Cassel) e a rivalidade da belíssima Lily (Mila Kunis).

Apesar de parecer uma obra simples, poucos se darão conta da densidade do filme. Não chega a ser tão sufocante como muitos vêm dizendo por aí (a fama do diretor e o hype formado pelo ambiente contribuem para isso), mas certamente não se trata de um simples sonho de uma garota ingênua sendo construído. "Cisne Negro" está muito acima disso.

Começando pela própria Nina, toda a sua dedicação à Arte é insuficiente para a conquista do papel que ela tanto almeja. Ensaiar por horas, prejudicar suas articulações, passar por toda a rotina do balé, que vai das técnicas a cada dia aprimoradas aos detalhes do figurino como a preparação dos sapatos, e ainda conviver com o mundo competitivo do balé, muitas vezes injusto por conta das poucas oportunidades de uma carreira tão curta. Mas ela enfrenta tudo isso sendo muito bem vista por seus superiores. Porém, toda a sua técnica está indo de acordo com Odette, o cisne branco. E para chegar ao encanto maquiavélico do cisne negro, ela terá que adquirir o que tanto falta nela: sensualidade.

Toda a construção feita pela busca dessa sensualidade é incitada pelo professor, que insinua a falta de libido da garota como um atraso para seu desenvolvimento. Por falar nisso, muito se falou sobre a cena de sexo entre Natalie Portman e Mila Kunis. Sinto decepcionar alguns, mas pelo alvoroço dado a essa cena, imaginava algo hiper revelador. Não é. Uma cena de sexo, que apesar de homossexual, está longe de chocar até mesmo os menos desencanados.

A transformação psicológica (ou seria busca?) de Nina é efetivamente a melhor coisa a se acompanhar em "Cisne Negro". Não que seja o único triunfo, mas analisar a forma como é feita a transição de personalidade – de uma garota infantilizada pela mãe a uma mulher capaz de escandalizar - é o grande barato do filme, que apresenta cenas do próprio balé e imagens oníricas para evidenciar esse processo.

Natalie Portman, extremamente magra, se entrega quase às últimas conseqüências em seu papel. Ainda não chega a ser seu melhor trabalho (em minha opinião, sua Alice Aires de "Closer – Perto Demais" ainda é o grande destaque), mas sua preparação corpórea e emocional para compor a bailarina com tantos desdobramentos já garante sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz, para não dizer antes do esperado que o prêmio já é dela.

A trilha sonora, o figurino e a fotografia, em conjunto, contribuem para essa sensação de inquietude. Aronofsky, mesmo quando não ousa para diferir-se de seu trabalho habitual, ainda é capaz de finalizar um filme de vida própria, e isso é justamente o que faz um diretor conseguir seu reconhecimento como um cineasta notável. Até mesmo os efeitos visuais dão ainda mais brilhantismo à coisa toda. A cena onde Natalie Portman se transforma enfim em Odile, o cisne negro, tem um trabalho visual que é de tirar o fôlego.

E é com essa belíssima cena que me atenho na lembrança de que "Cisne Negro" mantém o selo Aronofsky de qualidade.

3 comentários:

  1. Puta filme bom! Seus últimos 20 minutos vão ficar pra história, principalmente a transformação citada por você.

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  2. Eu ia comentar da transformação de Ntalie no Cisne Negro, que cena LINDA!! Realmente de tirar o fôlego.

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  3. Acabei de ver o filme e sinceramente não gostei!!!!
    Muita confusão pra minha cabeça,esperava uma transformação bem mais positiva da problematica personagem.Abraçoss

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